Feliciano de Assis – A pedra angular de Banco da Vitória.

FELICIANOPor Roberto Carlos Rodrigues.

Feliciano de Assis é nome de praça em Banco da Vitória. O cidadão que dá nome a essa praça ajudou literalmente construir com suas mãos boa parte do atual bairro de Ilhéus. Feliciano era pedreiro e blaster. Cortava pedras para construção de fundações de casas e prédios, quebrava britas e fazia paralelepípedos e meios-fios para calçamentos de ruas e praças. Por certo, quando andamos pelas atuais ruas calçadas de Banco da vitória pisamos em dezenas de milhares de pedras que foram cortadas com esmero pelo pai de Jair Rodrigues de Assis e seus irmãos e irmãs.

Feliciano de Assis nasceu em 09 de junho de 1903, na cidade de Cachoeira de São Felix, no recôncavo baiano. Era neto de ex-escravo e trazia em seu sangue os rastros dos negros Bantos. Seus familiares eram praticantes do Candomblé nas cidades de Cachoeira e Santo Amaro. Porém, Assis não era praticante dessa religião. Ele era católico e seguidor do Animismo, (culto em devoção as almas), mas era apaixonado pelas obras de Jesus Cristo, seu ídolo mor.

Feliciano de Assis chegou ao Banco da Vitória em 1926 com apenas 23 anos de Idade.  Estava com seu amigo inseparável por toda vida, Gonçalo. Veio exercer a sua profissão de demolidor de pedreiras e transforma-las em paralelepípedos, meios-fios, blocos de pedras e britas de todos os tamanhos.

Vale citar que na década de 20 a região cacaueira necessitava de mão de obra especializada, principalmente, na construção de estradas, ruas e casas. Neste efeito, muito artífices e profissionais eram recrutados em outras cidades e estados, para trabalhar na então rica Região cacaueira.

Em pouco tempo o jovem sanfelixta se estabeleceu em Banco da Vitória e no início da década de 30 se casou com Virginia Rodrigues de Assis (Dona Cabocla), irmã de Nestor Pereira e João Rodrigues (João de Coló). Desta união nasceram 11 filhos que sobreviveram, que são assim nomeados: Pupu (Antônio) Vastir, Dada (Idalício) Menininha (Giomar), Nilza, Vaninha, Ilza, Idalice, Big (Geny) e Jair, todos com o sobrenome do Clã Rodrigues de Assis. (E eu na rebarba!).

Feliciano de Assis era um ser especial. Teria sido o que quisesse ser. Era uma pessoa altamente carismática, calma, cativante, envolvente e inteligente. Adorava ajudar as pessoas mais humildes e participava de todos os mutirões que ocorriam na então vila de Banco da Vitória. Além de cortar pedras, ele sabia lidar com madeiras, construir telhados, edificar casas e prédios, pintar paredes e fazer calçamentos de ruas e passeios. Por conta disso ajudou com suas mãos erguer muitas casas e prédios em Banco da Vitória e na cidade de Ilhéus.

Como cortador profissional de pedras através de explosões controladas utilizando dinamites, (conhecido como Blaster), Seu Feliciano atuou também em diversas pedreiras de Ilhéus e principalmente na pedreira do Iguape, que naquela época fornecia pedras para a construção do Porto do Malhado, em Ilhéus. Desta forma, quando você olhar para o Porto Internacional de Ilhéus, lembre-se que ali também tem os frutos das mãos de Feliciano de Assis.

Por certo, dezenas de ruas nas cidades de Ilhéus e Itabuna foram calçadas com as pedras moldadas pelas mãos de Feliciano de Assis. Contudo, fora de Banco da Vitória, sua maior contribuição na construção civil foi fornecer pedras para a construção do paredão da encosta do Hospital São José, (entre a ladeira de Vitória e a Rua Bento Berilo), no centro de Ilhéus. Portanto, ao passar por estes logradouros saiba que as mãos de Feliciano de Assis contribuíram para tais feitos.

Cidadão admirado em Banco da Vitória, Feliciano de Assis era um tipo de decano extraoficial dessa comunidade. Várias pessoas recorriam a ele para ouvir orientações e conselhos. A sua forma de viver e criar sua prole, – baseadas no trabalho árduo, na justiça social e na ética -, dava-lhe ares de diplomacia e sabedoria que deviam ser seguidas por todos.

Por gostar de vestir-se sempre com camisas de linho branco e utilizar paletós engomados, gravatas listradas e chapéus aristocráticos, Feliciano era chamado por seus amigos de “O Diplomata Negro”. Nestor Pereira, seu cunhado chamava-o de “pavão raro”.

As mulheres de Banco da Vitória chamavam-no de “Cheiroso”. Isso porque Assis sempre usava os melhores perfumes, – principalmente os de fragrâncias suaves e românticas. Era naturalmente apaixonante. Dizia-se.

Feliciano de Assis foi um dos primeiros moradores da praça que hoje o homenageia. Quando ele construiu sua casa neste logradouro na década de 30 do século passado, apenas duas casas rústicas e um pequeno curral existiam ali. Uma casa de taipa existente pertencia aos Onorato e a outra casa pertencia ao saudoso seu Miguel, vizinho de Feliciano. Um pequeno curral pertencente aos Souza ficava nas imediações das atuais casas de seu Miguel e Ivone Santos.

Além das diversas ruas que calçou em Banco da Vitória Feliciano de Assis ajudou a construir (como voluntario e agente comunitário) diversas obras sociais da comunidade como: a Igreja Católica e a antiga igreja evangélica, o clube Social, o convento das freiras, as construções das casas dos padres, (No Alto da Bela Vista), nesta região o antigo salão social (hoje escola municipal) e a represa da rua da Presa. Foi deste ilustre morador de Banco da Vitória a iniciativa de criar a fonte da Água Boa, quando da abertura da nova estrada ligando Ilhéus à Itabuna, nos anos cinquenta do século passado.

Feliciano de Assis, assim como Laércio Souza, foram um dos poucos moradores de Banco da Vitória que puderam se dizer “conhecidos” do escritor itabunesse Jorge Amado. Em diversas vezes, em passagens pelo Banco da Vitoria, Amado conversou com seu Feliciano, que naquela época “cortava” pedras no Rio Cachoeira, bem em frente a atual bica da Água Boa.

Exímio pescador, Feliciano de Assis era um naturista devoto e aplicado. Só pescava o que comia com sua família e era um defensor dos animais e da natureza. Não comia caças. Gostava dos cantos de pássaros como curiós, papa-capins e sabias. O quintal da sua casa era um verdadeiro pomar onde os pássaros vinham deliciarem.

Apesar de não praticar a religião dos seus ancestrais, Assis costumava visitar os centros de Candomblés da comunidade, onde sempre era recebido como Iyaegbé ou Babaegbé (autoridade nata). Afinal, seus tios e primos eram respeitados Iyalorixás do Recôncavo Baiano.

Além de criar uma prole grande, o casal Seu Feliciano e Dona Cabocla também criaram inúmeros netos e bisnetos. Todos, – de filhos a netos e bisnetos, receberam um enfoque especial para os estudos e a educação. Dessa forma, os Rodrigues de Assis se transformaram em modelo de família na sociedade de Banco da Vitoria. Os filhos e netos do casal eram chamados na comunidade de “os pretinhos inteligentes”. Isso porque, numa época que se negligenciavam as prioridades da educação de crianças, todos os Rodrigues de Assis sabiam ler e escrever e muito destes se formaram e tornaram profissionais altamente capacitados. Feliciano não era apenas feliz no nome. Era também no saber.

Faleceu em 11 de junho de 1984, dois dias depois de completar 81 anos de idade. Foi levado à gloria. Todos sabem disso em Banco da Vitória. Até as pedras que forram as nossas ruas e casas.

Feliciano de Assis foi feliz por toda vida. Fez jus ao nome de batismo.

Feliciano de Assis era pai da minha mãe Ilza Rodrigues do Nascimento. Quando essa faleceu em dezembro de 1970, acolheu-me na sua casa como mais um neto querido. Ali fui criado e educado. Sou feliz por essência.

Notas:

1 – LEI Nº 2641, DE 15 DE DEZEMBRO DE 1997  Dá nome de Feliciano de Assis, à praça dos esportes no Banco da Vitória, nesta cidade.

O Prefeito do Município de Ilhéus, Faço saber que a Câmara Municipal de Ilhéus aprovou e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Fica denominada de FELICIANO DE ASSIS, a Praça dos Esportes no Banco da Vitória, nesta Cidade.

Art. 2º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 3º Revogam-se as disposições em contrário.

Gabinete do Prefeito Municipal de Ilhéus, em 15 de dezembro de 1997, 464º de Capitania e 116º da Elevação à Cidade. JABES RIBEIRO – Prefeito

2 – CEP

Praça Feliciano de Assis, Banco da Vitória Bahia – CEP 45661.000.

3 – Domicílios

Total de endereços encontrados: 17
Domicílios particulares: 16
Edificações em construção: 1
Quantidade estimada de moradores nesse logradouro: 54

Casas comerciais – 2

Livro: Dona Lia – A Matriarca de Banco da Vitória

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capa liaDona Lia A Matriarca de Banco da Vitória. Por Roberto Carlos Rodrigues

A casa é fácil de ser encontrada. Fica no número 17 na Praça Guilherme Xavier, no Centro de Banco da Vitória.  Na pequena varanda, uma senhora octogenária observa a calmaria daquele ambiente que bem conhece como poucos. Seus olhos buscam o céu azul do lugar e suas lembranças repousam sobre todo aquele solo, paralelepípedos e sua gente trabalhadora e feliz. Dona Lia, está bela e reluzente como uma linda senhora. Ela viu aquele arruado se transformar em povoado. O povoado em vila, a vila em distrito e este em bairro de Ilhéus. Dona Lia viu muita gente nascer, viver e morrer naquele lugar. Ela é uma testemunha viva da evolução dessa comunidade ribeirinha. Dona Lia baixa lentamente os olhos e observa carinhosamente suas mãos, agora tão cansadas e frágeis. Depois sorri calmamente como quem lembra de algo bom. Levanta a vista, olha novamente as onze arvores que adornam a praça Guilherme Xavier e sorri estridentemente como uma criança alegre. Dona Lia está feliz e realizada. Ela faz parte da alma deste lugar.

Muita gente amou e ama fervorosamente o Banco da Vitória. Muita gente fez e faz muito por esta comunidade. Muitos recitam seus amores poéticos por este lugar. Contudo, ninguém contribuiu mais para o desenvolvimento da nossa comunidade do que Seu Joaquim e sua amada esposa Dona Lia.