Quem Bateu em Tum?

Por Roberto Carlos Rodrigues

Por Roberto Carlos Rodrigues

Naqueles tempos, Osmário, – hoje nosso reconhecido pastor evangélico -, era chamado em Banco da Vitória pelo apelido de ‘Seu Tum’. ‘Seu Tum’ era um pescador fantástico e um fabuloso jogador de futebol. Ele jogava de ponta direito arisco – como dizia Zé da Alinhagem.

Durante as partidas de futebol, ‘Seu Tum’ fazia gols de todos os tipos e modos. Ele era a alegria das tardes de domingo em nossa comunidade. Os laterais e zagueiros sofriam com os dribles curtos e ligeiros do baixote jogador de futebol. Os goleiros temiam a presença de Seu Tum nos time adversários. Já a torcida adorava ver esse excelente jogador abrilhantar o futebol de Banco da Vitória.

Além de excelente jogador de futebol, Seu Tum já foi lutador de box e teve como treinador o exímio boxer da fama internacional, Cabo Jonas. Apesar de baixa estrutura física, Seu Tum era um boxeador ligeiro e arisco e não tinha medo de lutar com ninguém, – indiferente do peso ou altura do adversário.

Um dia houve uma luta de box memorável no clube social de Banco da Vitória. Seu Tum desafiou um outro lutador de box e outras artes marciais, conhecido como Florêncio, o então marido de Dona Eunice do carramachão.

Florêncio era um homem tarugado e forte, negro de quase dois metros de altura e beirava os cem quilos de peso. Quando a luta começou todo mundo já sabia do resultado. Ia haver o massacre de seu Tum. Florêncio, auto intitulado ‘O Matador’ ia acabar aquela luta logo no primeiro round.

tum234Isso de fato ocorreu, em parte. Seu Tum apanhou igual uma mala velha para largar a poeira antiga, mas não desistiu do desafio. Florêncio bateu em Seu Tum por mais de 10 minutos e a torcida pedia o fim da luta.

Mas ai apareceu o elemento surpresa. Cabo Jonas piscou o olho para seu boxer, indicando o golpe secreto e Seu Tum ganhou a luta.

O fato aconteceu assim: no meio da pancadaria, ‘Seu Tum’ deu um  chute nos culhões (testículos) de Florêncio. O negão desabou no chão feito um saco cheio de cacau e de lá não se levantou. Florêncio gemia feito um bezerro capado enquanto Seu Tum pulava e mostrava os bíceps.

Seu Tum foi então logo dado como vencedor da luta, pelo árbitro, que por ocasião oportuna, era o próprio Cabo Jonas. O clube social só faltou vir abaixo diante dos gritos dos espectadores! As mais de 400 pessoas presentes desta luta memorável saíram com o vitorioso Seu Tum nos ombros, gritando e festejando pelas ruas de Banco da Vitória. Florêncio foi carregado para casa, onde ficou muitos dias sem sair da cama.

‘Seu Tum’ passou uns dias ‘entocado’, sem sair de casa, como medo do revide jurado por Florêncio, diante da imagem de São Jorge, seu santo protetor. Depois, os dois boxeres se encontraram na Taiobinha de Seu Júlio e tudo se acertou entre amizades, risadas e doses de pinga.

Uma noite, havia festa no clube social, onde o Good Som de Jorjão animava o baile de Banco da Vitória. O porteiro era Jorjão e os seus mais de dois metros de altura, cento e cinqüenta quilos de raiva e pouca paciência. Foi então que chegou Seu Tum já afogado na cangibrina e os outros sinônimos da aguardente de Banco da Vitória – e subiu os degraus de acesso ao clube. Na portaria, ele tentou entrar na festa sem pagar o ingresso.

Jorjão repudiou a sua investida e num só golpe, tirou o pequenino Tum da porta do clube social. Seu Tum se sentiu ofendido pela aversão de Jorjão e por mais de meia hora tentou furar o bloqueio do já irritado porteiro. Por último, o Jorjão deu um violento cascudo em seu Tum e o empurrou de escada a baixo. O pobre Seu Tum caiu quase no meio da Praça Guilherme Xavier e saiu de lá chorando pelas ruas. As pessoas da praça zombaram do choro infantil do nosso fantástico jogador de futebol.

‘Seu Tum’ foi se consolar no bar de Zé da Linhagem, na rua do campo. Lá ele se queixou do acontecido e sensibilizou Cabo Jonas, que resolveu tirar satisfação do ocorrido.

Cabo Jonas saiu de venta aberta pela Rua do Campo rumando para aportaria do clube social. Foi seguido por Seu Tum que ainda choramingava e se queixava. Cabo Jonas chegou à porta do clube bradando e enfurecido. De lá gritou forte:

– Quem bateu em Tum? Quem bateu em Tum? Quem bateu em Tum? Eu quero saber agora! Me digam que fez essa maldade!

Jorjão, vendo a assombração sonora que Cabo Jonas fazia na portaria do clube social, se aproximou do nosso ilustre amigo e também gritando disse, nos bigodes de Cabo Jonas:

– Fui eu!! e daí?

Cabo Jonas olhou o porte físico de Jorjão, tosou o cidadão de cima a baixo, mediu com os olhos a largura dos seus ombros e retrucou na hora:

– Bem feito! Bem feito! Tum tá muito ousado quando bebe. Bem feito. Bem feito mesmo. Se fosse eu dava uns dez cascudos nesse menino ousado e teimoso…

Cabo Jonas foi logo embora pela mesma rua por aonde veio.

Na verdade, Cabo Jonas foi para casa tomar um engrossante feito por Dona Deth, sua querida e dedicada esposa. Seu Tum foi para a Pedra de Guerra, tomar banho e curar a ressaca.

Por Roberto Carlos Rodrigues

Cabo Jonas Banco da Vitória Ilhéus

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